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    8 de mai. de 2004

    Algumas impressões particulares sobre a Bienal do livro

    De acordo com uma estatística que vi em algum lugar, mais de 80% da população brasileira não leu um livro sequer em 2003. Destes, creio que uma boa parte vai ler, pelo menos esse ano. Essa especulação está baseada em minha supresa quando vi o volumoso público presente à Bienal.

    Porém fiquei um pouco triste ao perceber o caráter de feira que a Bienal acaba por assumir para a maioria destas pessoas: a ávida busca por algo para se comprar e, quem sabe um dia, ler; quase sempre sem nenhuma noção ou referência. Para outros tantos, nada mais é que um roteiro de passeio, uma semana onde uma forma diferente de turismo é disponibilizada. Acentuando esse caráter de passeio, constata-se muitas e muitas atrações infantis e a grande maioria do marketing voltado para as crianças. A título de ilustração, nesse dia em que estava, os únicos "escritores" famosos que vi foram Maurício de Sousa e Ziraldo... Não critico a variedade do público-alvo, e a faixa etária infantil, mas sinceramente fico imaginando se o interesse em toda essa promoção é mesmo o estímulo à formação de novos leitores, ou simplesmente a conquista de mais uma fatia do mercado, um potencial a ser explorado.

    E por falar em mercado, outra coisa que salta aos olhos é a quantidade de editoras de cunho religioso, sejam católicas, espíritas ou protestantes. Livros espíritas são comuns de se ver, estão há mais tempo em circulação. E seguindo de perto essa onda, crescendo exponencialmente, estão as editoras católicas e protestantes, proliferando justamente entre pessoas que têm pouca ou nenhuma instrução (discernimento, crítica), uma exploração de pessoas que têm pouco (ou quase nada) a ser extirpado. O consolo que estas editoras oferecem a essas pessoas, ao contrário dos livros de auto-ajuda (que trazem respostas prontas e enlatadas), são algumas promessas absurdas, baseadas no "persevere com fé, que o seu dia há de chegar". E com perplexidade, elas fica contemplando... aquele estranho dia que nunca chega.

    Se o objetivo da Bienal é a popularização do livro pelo livro, creio que o cumpre bem, mesmo caracterizando-o como mais um objeto de consumo. A minha opinião é que esse apelo popular do qual ela está permeada, deveria ser melhor aproveitado em termos culturais, na transmissão de valores mais profundos e proeminentes, notadamente a valorização do livro como um instrumento de informação, formação, transformação e, até, libertação. E não encará-lo como um amuleto, um guia, um talismã, uma regra, um senhor opressor. Muito pelo contrário.

    Ouvi alguém dizer que o brasileiro lê pouco. E acabo tendo que concordar: lê um livro, de dois em dois anos.

    P.S.: Para quem quiser ver como aproveitei a Bienal: Fotolog

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