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    25 de mar. de 2004

    Heliópolis = cidade do sol



    Favela, não. Comunidade Heliópolis. O aglomerado de casinhas de alvenaria, espalhadas por uma área de um milhão de metros quadrados no bairro do Sacomã, na zona sul, já não pode ser chamado de favela. O alojamento provisório que durou 24 anos para os despejados de uma área da Vila Prudente, na década de 70, cresceu e se transformou em uma cidade de 125 mil habitantes. Tem vida própria e só depende dos empregos de São Paulo para sobreviver.

    É certo que Heliópolis ainda mantém sua porção de barracos equilibrados sobre um córrego. Mas é só nesse trecho, onde estão 300 esqueletos de madeira, que a miséria se mostra mais explícita. É a Heliópolis pobre, a periferia da comunidade protegida pela proximidade do santuário de Santa Edwiges. E há o "Morumbi" de Heliópolis, com casas de três andares, de fachadas revestidas com azulejos. "Cada tipo de azulejo representa um status, a diferenciação social", analisou Francisco Capuano Scarlato, especialista em geografia urbana. (...)

    O representante de uma associação de moradores escalado para traçar o perfil de Heliópolis falou sobre os "pobres" e os "ricos" da comunidade, separados do córrego e do esgoto pelas fachadas de azulejos. O líder comunitário foi franco: não escondeu que há os fora-da-lei que mantêm pontos de tráfico, mas enviam seus filhos para participar dos projetos sociais da favela. "Não querem que eles levem a mesma vida."

    Nada dito - A convivência entre as entidades e o tráfico é conseguida com o silêncio e o respeito. "Não usamos camisetas com a inscrição 'não use drogas', porque fazer isso significa entrar numa guerra." Os traficantes, de seu lado, não procuram confusão para "não queimar a área", o que significa atrair a atenção da polícia.

    Foi dali que nasceu o sucesso e a influência de Rappin Hood sobre os jovens de Heliópolis. O rapper, com as letras ácidas de sua música de inconformismo com as diferenças da cidade, atrai a atenção da moçada. Anteontem, virou a atração principal dos pesquisadores ao falar sobre os "mano" e as "mina" da favela. E falou numa gíria entendida como o português mais claro para antropólogos e sociólogos. "Eu aqui, mano, sou o espelho da molecada."

    Olhando para mim, sentem que também podem dar certo. Tem moleque, mano, que não conhece o mundão fora da favela e aqui vêem coisa errada todo dia. A gente também quer a USP nas quebradas, mano. Tem muito talento escondido na favela."

    Extraído da reportagem Expedição SP 450 anos

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