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    31 de mar. de 2004

    Contos da txt magazine - parte III

    Sentido Horário, de Eduardo Rauber

    Ela entrou no ônibus, passou pela roleta, deu um "oi" pro cobrador e se sentou na janela, percebendo os olhares pecaminosos que a cercavam. Não era a primeira vez que isso acontecia.

    Ele entrou no restaurante, deu uma olhada nos feios quadros da parede e se sentou numa mesa vazia, percebendo que ninguém o havia notado. Não era a primeira vez que isso acontecia.

    Bruna estava usando uma minissaia que deixava à mostra suas belas pernas. Pensou em pegar seu walkman da bolsa, mas preferiu ficar absorta em seus pensamentos e observar as mesmas ruas de todos os dias.

    Rodrigo, conformado com a comida apenas razoável, almoçava de maneira quieta, observando as demais pessoas e o lugar. Os quadros tinham lhe chamado a atenção por serem muito amadores e ruins até para um leigo em artes como ele. E uns 2 ainda eram de natureza morta.

    Sentada, Bruna divagava sobre suas questões existenciais quando uma senhora cheia de sacolas do Nacional sentou ao seu lado, quebrando sua concentração. Decidiu então planejar o resto do seu dia. Saía do trabalho às seis, seis e meia tinha psicólogo, e lá pelas oito chegava em casa. "Será que hoje ele me liga?", pensou ela.

    O garçom chegou a mesa de Rodrigo e perguntou se ele desejava alguma coisa para beber. Pediu uma Coca e perguntou em um tom de voz normal e até mais amável do que o normal:
    - Tu pode me dizer uma coisa, foi tu que pintou esses quadros?
    - Não.
    Rodrigo se deu por satisfeito com a resposta seca do garçom e decidiu não se aprofundar no assunto.

    Ao parar em uma sinaleira, Bruna viu duas pessoas no carro ao lado discutindo. Ver pessoas discutindo sempre lhe dava um certo mal-estar, talvez até maior do que vê-las brigando fisicamente.

    Rodrigo se encaminhou ao caixa, pagou com seus tickets refeição e deixou o restaurante. "Tomara que eu me lembre de não vir muito seguido aqui". Já estava um pouco atrasado, mas seguiu calmamente à parada de ônibus.

    Ela pediu licença para a senhora com as sacolas e foi até a porta da frente, agradecendo ao motorista e descendo do ônibus. Passando pela parada, trocou um profundo olhar com um homem que a encarava e seguiu ao restaurante que ficava perto do seu trabalho.

    Rodrigo chegou na parada e, enquanto esperava seu ônibus, ficou olhando uma menina que descia de um ônibus. "Bonitas pernas" pensou. Ao passar por ele, ela o olhou nos olhos.

    Depois de alguns minutos seu ônibus chegou.

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